(Especial Oscar 2013: crítica do filme “Amour”)
Aviso: A crítica contém spoilers! Só
leia se você já assistiu ao filme ou se não liga de saber sobre alguns fatos
importantes antes de vê-lo.
Amour... Uma obra seca,
fria, angustiante e nada romântica sobre o fim da vida... Um filme carregado de
dor e sofrimento, mas incapaz de provocar uma lágrima sequer...
Para ser apreciado e
não sentido, “Amour” é um verdadeiro nocaute ao espectador, que sai arrasado,
destruído por dentro e ainda com pitadas de confusão e tédio.
O novo trabalho do
cineasta austríaco Michael Haneke, além de ser uma verdadeira obra de arte para
o público “Cult”, amante do cinema europeu, também conseguiu despertar o
interesse e conquistar outros tipos de espectadores, por meio de seu brilho
proveniente da transparência e sinceridade dos personagens extremamente humanos
e da agoniante concepção de amor do diretor. No entanto, para o público “hollywoodiano
de carteirinha”, um aviso: o sofrimento excessivo (e passivo de náusea) somado à
angustiante falta de ação, movimento de câmera e trilha sonora da produção
cinematográfica, pode vir a se tornar uma verdadeira sessão de tortura, na qual
127 minutos se tornam, no mínimo, 500.
“Amour” conta a
história de um casal de professores de música aposentados e octogenários que
vivem em um apartamento em Paris. Georges e Anne têm uma vida simples e uma
rotina afetuosa de um casal que parece ter passado a vida inteira juntos.
Um dia, um grave problema
de saúde deixa Anne com todo o lado direito de seu corpo paralisado e inicia um
processo progressivo de degradação física e mental, levando o casal da harmonia
ao sofrimento em segundos, com Georges passando a dedicar-se integralmente à
sua esposa.
Com Anne cada vez mais
dependente e incapaz, ele contrata uma enfermeira para ajudá-lo com as
necessidades básicas de sua mulher, como a de ir ao banheiro, tomar banho e se
alimentar.
No auge da doença, o desgastado Georges encontra-se em uma situação de extrema
periclitância e começa a repensar sobre a sua luta pela vida de sua
esposa, que já desistiu e deseja morrer para cessar seu sofrimento
indescritível.
Pela primeira vez na
história do cinema a velhice foi retratada de forma tão dura, seca e humana. A
situação é tão real que a produção deveria ter classificação indicativa para
menores de 70 anos, pois deve ser um verdadeiro choque misturado a uma agonia
claustrofóbica assistir tais cenas, que retratam a possibilidade de uma
realidade que pode estar próxima para pessoas com essa idade para cima (muitas
saíram no meio da sessão).
A atriz principal que
faz o papel de Anne é a Emmanuele Riva, que, apesar de ter atuado na memorável
produção cinematográfica de Alain Resnais, “Hiroshima, Mon Amour”, nunca, até
então, havia conseguido ganhar uma grande visibilidade e nem se tornar
extremamente famosa e aclamada no mundo do cinema, mas, agora, aos 85 anos, ela
mudou esse cenário com uma atuação simplesmente impecável e digna de aplausos,
tornando-se, merecidamente, a atriz com mais idade a concorrer ao Oscar pelo
prêmio de Melhor Atriz.
Já o ator francês que representou
Georges, Jean-Louis Trintigant, não impressionou muito e nem se destacou de
forma fora do comum, apesar de, ao contrário de Emmanuelle, ter tido uma
carreira sólida e plena desde cedo, com papel em mais de 130 filmes, mesmo com
uma triste e trágica história de vida.
A atuação de Emmanuele
ganhou os holofotes e amenizou fatos que causaram desconforto, como o excesso
de frieza de Georges ao matar Anne sufocada com o travesseiro (para livrá-la de
seu sofrimento). O motivo ficou claro e foi totalmente compreensível, mas a
falta de sentimentos do personagem incomodou muito, afinal, ele levou a
situação de forma normal e não pareceu se importar nenhum pouco com o que havia
acabado de fazer, contradizendo todo o amor que parecia sentir.
Pouquíssimas cenas
empolgaram e “despertaram” os espectadores, como a da demissão da enfermeira,
que maltratou Anne, a do sonho de Georges, a do tapa que ele dá na cara dela (por
cuspir a água) e a do sufocamento. Algumas foram desnecessárias e, para muitos,
sem sentido, como as duas da pomba e a dos quadros. A maioria foi longa demais,
parada e até entediante, com eles comendo, se olhando... Com um silêncio que
fazia a cena durar três vezes mais do que ela realmente durava (as
desnecessárias se enquadram aqui também). As cenas que sobraram, foram
dolorosas e agonizantes.
O que poderia ser
explorado mais a fundo, como a hora que ela passa mal a primeira vez e começa a
desenvolver a doença, não foi...
Resultado final?
Negativo, mas com um grande brilho de fundo que, com toda a certeza, não o
deixa passar despercebido, desperta interesse e chama muita atenção, provando
que é permitido sim saborear a escuridão de um cinema fúnebre e sair da sessão satisfeito.
Machucado... Mas
satisfeito.
Arthur
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Essa crítica ficou hilária...você "descascou" o pobre filme chato, mas com toda elegância como sempre. Para os fãs do cinema americano, filmes como esse sempre serão insuportáveis, lentos e tediosos. Também acho não fazer nenhum sentido ficarmos assistindo 15 minutos de uma caça a pomba ou um close de 5 minutos. Desnecessário é a melhor palavra para definir esse filme.
Discordo totalmente da crítica apresentada. O filme, e, principalmente, os protagonistas estavam impecáveis. O público cult, apesar de um roteiro doloroso, certamente ofereceu excelentes críticas ao filme. O autor pensou em cada detalhe, mesmo nas cenas, como por exemplo, da pomba, dos quadros, ele se arriscou em deixar de tal forma que fosse realista e fugiu do clichê, como vemos na grande maioria dos filmes. É só imaginarmos a gente registrando nosso dia a dia que fica fácil de compreender a ideia do autor. Imagine você com uma filmadora, filmando tudo por dias. Com certeza irá aparecer muitas coisas "cansativas" e você vai querer avançar o vídeo. Percebeu? Essa foi a minha visão sobre o filme, mas claro, respeito as contrárias.
Achei o filme é belíssimo, lírico,profundo e tocante. Alice, reveja seu conceito de desnecessário, vc pode se surpreender...
Aparentemente você só assiste filme de Hollywood para fazer críticas assim. Filme europeu segue uma outra lógica, que não é a mercadológica como nos EUA. É uma produção a ser apreciada e não para ser consumida como um fast food.
A intenção é levantar reflexão sobre velhice, sofrimento e morte, são assuntos densos e por isso o filme tem essa narrativa mais lenta justamente para dar tempo ao espectador absorver e refletir sobre o assunto.
Eu não produzi o filme, mas tenho certeza de que o diretor não quis "empolgar e despertar os espectadores" e, se o quisesse, não teria escolhido a morte como um tema. E mais, nenhuma cena é desnecessária, todas as que você julga com tal são importantes para ambientar os espectadores àquele ambiente limitado e fechado que era a casa deles.
Por fim, recomendo sair da zona de conforto e ver mais produções de outros países. Ou continue a assistir filmes como mero entretenimento, o que não há nada de errado. Só não dá para cobrar que um filme como "Amour" te entretenha, visto que ele não foi feito para isso.
O filme é extremamente realista e, para mim, pareceu propositadamente arrastado, justamente como a vida real em situações como aquela. Me tocou profundamente, me fez lembrar de cenas idênticas na vida do meu avô e, ainda, me fez mudar de atitude mental e prática em relação à preparação para minha própria velhice. Hoje tenho 35. Prêmios e indicações mais que merecidos.
Um filme humano , simplesmente humano. Os nadas que compõe a vida, a impotência de aceitar a velhice e a morte. As horas que se transformam em séculos, numa situação difícil de doença sem cura, sem esperança...só quem já viveu mais de 50 anos pode entender esse filme.
Boas. Sei que este post é antigo mas eu só visualizei o filme na semana passada no âmbito de uma formação em Luto e em Cuidados Paliativos que estou a realizar. O filme, sob todos os aspectos, é brilhante, o que justifica os aplausos da crítica e o prémio que lhe foi atribuído. Respeito a sua crítica mas discordo. Não podemos gostar todos do mesmo nem apreciar a arte da mesma maneira. O filme retrata a vida dos idosos sem apoio de luto preparatório e a ausência de cuidados paliativos que é, infelizmente, e apesar do esforço de muitos profissionais, ainda uma lacuna profunda em Portugal. O filme é brilhante em contextualização, cenários, personificação da doença, medos, afectividade e, por fim, brilhante em contextualizar a morte dos idosos. Uma última "achega". Georges sofre de alucinações devido a "burnout" de cuidador. Lamentavelmente, isso não foi escrito na sua critica. Criticar não é deitar abaixo, é estudar os temas antes de escrever sobre eles. Além disso, ele mata a sua mulher por amor. O filme chama-se "Amour". Amor. Não leu isso no titulo? Podemos não concordar com o fim, mas é o amor que faz mover toda a trama do filme, não a crueldade. Obrigada por me ter lido.
Fernanda Barata
www.saudementalhumanamente.pt